Aqui tu tens capa e músicas do meu segundo cd de músicas autorais e também as letras de cada música desse disco.
As coplas mal arranjadas e os compassos imperfeitos,
As rimas aproximadas e a voz cheia de trejeitos,
um homem que abre o peito pro canto que não cabe em si,
porque a vida quis assim.
Enfrenei o pensamento, mas dei asa à liberdade,
E nisso cruzei o cercado entre o campo e a cidade,
Troquei meu pala de braço e as ideias de lugar
Porque a vida quis assim.
Cantando de peito aberto celebrei minha verdade,
A aurora do sentimento foi o Pampa:
Um lugar na minha história onde cabe o coração
E explica toda razão da minha existência.
No lombo dessa lembrança eu carrego a bagagem
De todas minhas andanças, De onde eu trago a coragem
De ser uma vela aberta Nesse mar de tempestade,
Porque a vida quis assim.
E sigo a minha sina de cantar meu verso tosco.
Nos galpões e nas esquinas, minha voz carrega um chasque,
Num gesto de boa amizade tendo o Sul de inspiração
Porque a vida quis assim...
A minha grei peregrina me fez ver na vastidão
Dos pampas a trilha menina coberta de mansidão.
Os mais vividos sonharam com trilhas sem aramados,
Pois certamente sabiam que as almas não têm forcados.
Almas não cabem na não, almas não cabem na mão.
Por não saber de fronteiras padeço de amplidão,
Eu tenho um mar nos meus olhos e campos no meu coração.
São mais do que sete vidas pra uma mesma existência,
Em fases de luas partidas vamos cambiando as querências.
E a natureza aragana que guarda todo o passado,
Sempre em reinas pampeanas, devassa os alambrados.
Almas pertencem ao chão, almas pertencem ao chão.
Por não saber de fronteiras padeço de amplidão,
Eu tenho um mar nos meus olhos e campos no meu coração.
As pechas e os desencontros, o cabresto e a arapuca,
Se moldam em alabastros, são vivências que educam.
E se trocamos os pelegos do destino caborteiro,
Temos sempre um atavismo preso como sincerro.
Almas não cabem na mão, almas pertencem ao chão…
Por não saber de fronteiras padeço de amplidão,
Eu tenho um mar nos meus olhos e campos no meu coração.
Somos filhos de uma trama entrelaçada nesse chão,
descendentes de um destino que nos trouxe pela mão.
Aprendemos e ensinamos nossas sendas, nosso orgulho,
nossa herança é um sentimento que chamamos tradição.
Somos gana e coragem, vento forte e liberdade,
construímos nossa vida entre o campo e a cidade.
Somos povo de um futuro que a verdade sempre traz,
aprendemos com a guerra, mas vivemos pela paz.
E por ser descendentes, plantar com fé,
pedir pra estrela cadente iluminar
os corações e as mentes... eternos..
Descendentes de uma essência tão terrunha, tão tenaz,
nos descobrimos capazes de forjar nossa querência.
Pealamos nossos sonhos e sonhamos o universo,
Transformamos nossa força em poesia, canto e verso.
Descendentrs somos erva, descendentes somos cura.
Na mais pura alquimia nos fizemos unidade.
Temos reza e benzedura pra acalmar a tempestade
e sabemos que esse pago nos criou pra testemunha.
E por ser descendentes, plantar com fé,
pedir pra estrela cadente iluminar
os corações e as mentes... eternos..
E por ser descendentes arar o chão,
honrar os costumes das gentes, plantar o grão,
amar o chão que nos trouxe aqui,
que nos levar novamente
quando a hora chegar...
O tempo fala comigo no silêncio desses dias.
À medida que envelheço tanto mais eu reconheço
que o tempo é meu amigo.
O tempo fala comigo na água-benta dos mates.
Por ter no cabelo a geada, aprendi a troteada
do tempo charlando comigo.
No reponte das lembranças, longas léguas de experiência,
No calor das circunstâncias me preparo pras mudanças
que ele insiste em fazer...
O tempo é como criança, não mente nem faz rodeio,
Mas antes do fim tem o meio e com ele a temperança
que se aprende a ter...
O tempo fala comigo nas invernias silentes,
Nas noites de sexta-feira, nos domingos mal-dormidos
O tempo fala comigo…
O tempo – esse louco! - fala comigo...
Voa sem direção a folha azul, solta no vento,
leva pro fim do céu, pro vau do rio, meu pensamento.
Beira de mato, próximo aos fatos,
carrega toda a sorte de planos, ideias, lembranças, saudades
e desejos..
No voo surreal de um beija-flor solto no vento,
toca em toda flor e distribui meu pensamento.
Paira um segundo e pousa na tarumã,
transporta todos os tipos de sonhos, memórias, quimeras, vontades
e meus medos...
Meu pensamento veloz como um cavalo de lei,
quando dispara é solto das patas, orelhano que vive sem rei.
Meu pensamento atroz, como um mandado do céu,
quando dispara é solto das patas,
corisco que marca o chão.
Os pensamentos são as folhas azuis soltas no vento,
num voo surreal, que levam em si marcas do tempo.
Não há passado nem quem espere
nem os olhos rasos, doídos, cansados e mal porcamente dormidos
de quem pensa...
Fiquei foi no vinho,
O fardo terrunho de um brilho que some
E o vento da tarde que trouxe o escuro pra o céu destas bandas,
No escuro que trouxe o canto dos grilos pra o rancho escutar
E a casa responde na quincha molhada do olhar da varanda...
Fiquei foi no vinho,
Com metros e quilos de uma saudade que não me responde,
Um triste compasso de uma melodia que nunca termina,
Com a voz das palavras em busca das luas pra logo chegar,
Um gosto sincero de ver a distância ao fechar as retinas.
Fiquei com saudade,
Mas tenho a estrada que há tempos conheço.
Eu tenho uma alma
que ainda não soube falar o que sabe do amor.
Busquei nas ternuras
Do céu e da terrra um pouso pra os olhos,
Mas vejo que os mesmos não dormem sorrindo se acordam com dor...
Fiquei foi no vinho,
O fardo terrunho de um brilho que parte,
E o vento da noite que quase não pulsa somente traz águas.
Ainda escuro e os pingos que chegam se mostram serenos,
Também pra escutar o canto dos grilos
que às vez(es) trazem mágoas.
Fiquei foi no vinho,
Somente com os olhos de ver meus olhares buscando terreno,
Somente com as vozes sopradas ao vento buscando outras rimas,
Somente comigo e o triste compasso que sempre começa
Com aquela distancia que quer estar longe mas nunca termina.
Fiquei com saudade,
Mas tenho a estrada que há tempos conheço.
Eu tenho uma alma que ainda não soube falar o que sabe do amor.
Busquei nas ternuras
Do céu e da terrra um pouso pra os olhos,
Mas vejo que os mesmo não dormem sorrindo
se acordam com dor.
Fiquei foi no vinho... Fiquei foi no vinho...
Fonte são teus olhos de luz,
Morena cunhã, clarear da manhã, farol andaluz.
Fonte é teu jeito de rio, selvagem, veloz, na força da voz, culatra e pavio.
No rumo do dia, com ganas de vida,
Refuga a guarida em busca do sonho da casa e do pão;
Tuas marcas são fontes, nasceiro que aponta
O norte das trilhas no Sul das ideias,
Tua alma é do chão.
Fonte é teu gesto audaz,
Madrasta razão, bagual coração, silêncio mordaz.
Fonte é teu ventre macio,
Proibida maçã, cruel cortesã, felina no cio.
Espero do fundo da alma que entendas meu jeito
de xucro sujeito que um dia foi teu pai,
não quero explicar ou desculpar meus defeitos,
apenas te dizer um par de coisas que te faça pensar.
Quando era mais jovem sabia que sabia de tudo,
nunca mudo, mas cego e surdo, tocava em frente,
mas as crias crescem e logo se transformam em gente,
desarrumando as certezas, derrubando a mesa do que era futuro.
Se eu não demonstro parece que minto,
se a voz trava não digo o que sinto,
mas acredite não há mais nada
do que estar ao teu lado na estrada.
E se eu canto é só pra dizer
que para sempre eu vou ser
o primeiro cara a te esperar
e o último a te esquecer...
Nas noites, sentados no sótão, contando estrelas,
ou quando fazemos duetos nas nossas canções,
eu vivo os invernos sonhando os verões
pra matearmos juntos no tempo das tardes, essas tardes tão belas.
E, mesmo distante, eu tento uma nova investida
de escrever o manual de ser pai, que todo pai tenta.
E quando entende que não consegue, inventa,
E é bem aí que começam as noites eternas e mal dormidas...
Na lida bruta de sol, tropa e poeira,
vida e lutas vêm na minha esteira.
Sombra e aguada, lenha pra fogueira,
Ronda e toada pra estrela boieira.
O amor é igual à mãe-d'água,
que adoça a voz quando mente;
depois, some noite adentro e
leva o coração da gente!
Saudade é um rastro de fogo
que vem com a estrela cadente.
Mas quem canta o mal espanta,
e não há de ser diferente!
Quem segue os passos da tropa estradeira
recebe um laço, o rastro e a poeira.
A crença no abraço da sorte matreira
E a força no braço pra uma vida inteira
As lembranças que o tempo se ocupa em preservar
São porteiras entreabertas que não deu pra eu fechar.
Pelas frestas das passagens insistiram em me seguir
Como bens de contrabando, que eu não conto pra ninguém.
Embretado o pensamento, mas sem dar a cara-volta,
Volta e meia me golpeia o calor de uma saudade.
Meus recuerdos são as sendas madrugueiras,
São meu credo, meu vinhedo.
E por tê-los no abismo sempre à beira
É que os tenho em segredo...
As lembranças são letras de uma canção
No memorial das cismas de um coração.
Minha alma de estrada volta e meia faz pousada
no cepo de um alambrado.
E estende um olhar demorado, que esquadrinha o caminho,
louco pra fazer o ninho, feito um ximango cansado,
que conheceu no passado
A dona de uns olhos negros, olhos de guardar segredos,
que não revelaram nada.
E desse dia em diante meu olhar ximango errante
decidiu viver sozinho...
De galho em galho pulando, o ximango foi voando
abraçar o seu destino.
Em seu voar peregrino, guardava reminiscências,
lamentando as ausências da vida que não viveu.
No voo nunca esqueceu
A dona dos olhos negros, olhos de guardar segredos,
que não revelaram nada.
Maldita culpa de quem, que na falta de coragem
não se disse apaixonado?
Nos alforjes da lembrança rebrotou a esperança
de mudar o não-escrito.
O que antes não foi dito foi apenas um hiato,
nada muda o velho fato que o silêncio escondeu.
A dona dos olhos negros, olhos de guardar segredos,
me recebeu no alambrado quando eu disse o que sentia.
Foi esse o melhor dos meus dias e então o fim foi começo
de um passado não vivido...
O ximango e os olhos negros dividiram os segredos
e alçaram voo grudados, deixando de lado seus medos,
Vivendo pra vida somente, construíram o seu ninho
E deram pro mundo sementes...